segunda-feira, 16 de maio de 2011

Capítulo V - Cena I

A noite é um delírio insano. O calor me enlouquece. A gaveta aberta, as lembranças espalhadas pelo chão. Velhas fotografias, cartas, uma vida trancada em amargas ilusões. Sorrisos amarelados e olhos sem brilho na fugacidade do tempo. As imagens estão gastas, sem cor, sem alma. O amor faz isso conosco, muitas vezes maltrata. Não, não, maltrata na maioria horripilante das vezes. Nunca pensei que choraria. Meu pai havia me ensinado que homens não choram, mas ele estava errado. Estava errado com seu olhar amargo de quem a vida impingiu fortes mágoas. Meu pai à mesa, com seu rosto rude e lábios curvados para baixo, dizia-me num tom severo de quem conhece a vida: homem não chora, Jorge, engole a lágrima sem fazer careta. O homem deve ser forte e não demonstrar as sentimentalidades para quem quer que seja. Somos de pedra, duros como as fortalezas de São Jorge. Mulher nenhuma merece o mar em nossos olhos salgados.

Homem não chora, dizia meu pai à mesa, mas eu choro. E choro às sentimentalidades tão condenadas. Eu choro ao amor debandado, humilhado, esquecido. Minhas lágrimas se juntam ao mar, não de Portugal, mas da Guanabara e vão se juntar ao Tejo, atravessando o atlântico, nesta dor além-mar.

Um comentário:

  1. Jorge agora vai saber o que é sofrer. Vai dar valor ao que perdeu. Melhor, vai cair o véu que impedia seus olhos de verem onde estava a sua felicidade.
    Meu último post desta boa temporada. A nova fase começa agora. Você entende o que eu digo.
    Beijos e até o amanhã.

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