domingo, 20 de março de 2011

Capítulo III - Cena VIII

É tarde. Dormi demais, dormi mais do que poderia. O sol está alto e me queima o rosto. Nem adianta correr, o trabalho foi perdido, mais um dia jogado fora e logo vão acabar também por me jogar fora da empresa. Que importa? Não tenho paciência para processos, não tenho cabeça para nada além das minhas dores. Sou um canalha sentimental, assim me define o amigo Lisandro. Um canalha sentimental... Não discordo da alcunha que me dão como piada, mas não concordo de todo. Como homem, errei no trato às mulheres que amei, eu errei por ter no sexo febril a razão da vida, errei por amar demais, errei por amar de menos... foram tantos erros, quase não vejo acertos.

Dormi mal. A poltrona é uma tortura às minhas costas. Não sou mais tão jovem como antes, meu corpo já não é o mesmo de outros tempos. Estou a envelhecer. E o que tenho nesta vida? O que construí? O status social, o dinheiro, a pouca fama não são suficientes para estampar em meu rosto um sorriso verdadeiro. O que é verdadeiro em minha vida?

A cama arrumada, o quarto vazio. Luciana não está em casa. Deve ter ido ao trabalho. O cheiro dela ainda está no ar, um cheiro doce, perfume suave e prazeroso. Como posso não amá-la se ela é todo amor? Que tipo de homem sou eu? Um canalha sentimental, as palavras do amigo ecoam em minha cabeça dolorida.

Um comentário:

  1. Ansiedade a mil. Ela foi embora?
    Leitura quinzenal completa.
    Engraçado, sonhei com isto hoje.

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