
Vazia, eu olhava pela porta ainda aberta. Algo em mim o esperava de volta — coisa louca — eu o expulsava da minha vida e tinha o desejo de que insistisse para ficar. Mas Jorge sempre me surpreendia, eu nunca poderia esperar dele a certeza, quando todo ele era o improviso. Jorge não voltou, não argumentou, não gritou, não brigou. O silêncio foi um golpe fatal à minha falsa superioridade racional.
Era isso o que eu queria de verdade? Não poderia perdoá-lo pelas inúmeras falhas? O coração ferido acreditava numa mudança, mas a mente fria sempre soube que não se muda o homem. Ele faria novamente. Ao menor descuido meu, ele me trairia como era de costume. E eu, que sempre pensei na sua satisfação, amargaria maiores decepções, transformando o amor de ontem no ódio de hoje. Não mudou muito, entretanto. O que sinto por ele não é algo saudável ou digno de caixinha de lembranças.
Se fomos felizes um dia? Sim, fomos felizes, pelo menos eu penso que sim. Mas a felicidade de um instante não supera a tristeza absoluta que se instalou em mim desde que soube de outros braços em seu corpo, desde que perdemos aos poucos a centelha do amor que nos consumia como corpos ardentes. A súbita lembrança me esfacela o peito. Queria esquecê-lo, transformá-lo numa simples e vaga recordação do passado mutilado e distante, mas esse homem de fala mansa e sorriso pleno não se apaga em mim, embora eu me esforce para tal. Maldito! Ele ou meu coração? Somos todos malditos neste campo de mentiras e ilusões. O amor é um veneno, Jorge a serpente que jorrou em mim a mácula da decepção.
Claudia ainda pensa muito nele. E Luciana, onde andará?
ResponderExcluirHoje em dia, as mulheres estão experts nisso de seguir em frente e abandonar toda uma história e estão certas nessa circunstância do texto.
ResponderExcluirMas difícil mesmo é se entregar de corpo e alma, dando a cara a tapa. Pulando de vez na história ainda que saiba da possibilidade de acabar sofrendo.
Parabéns. Adorei o blog.
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