sábado, 30 de abril de 2011

Capítulo IV - Cena IV

Noites atravessei em prantos. Eu chorava por ele, pela falta dele, pelo ódio dele, pelo amor dele. Amor e ódio, duas linhas tênues que se cruzam em determinada parte do caminho das quimeras. Definhei como uma paciente terminal apenas esperando a morte chegar. Mas fui eu que lhe pus para fora de mim. Fui eu que lhe neguei o perdão. Mas não poderia ser diferente. Eu não poderia deixar que ele me fizesse de tola eternamente como há muito fazia. Era preciso ser forte e aguentar a dor brutal que me punha inconsciente na cama.

Jorge entrou no elevador sem olhar para trás. Eu caí sobre os joelhos em pânico. A dor pungente me contraía o estômago, a vista turva, banhada de lágrimas, banhada das agonias da loucura. Eu gritei como se me arrancassem de mim mesma numa explosão catastrófica de dor e de mágoa. Eu gritei porque queria que ele me ouvisse, mas é claro que não me ouviu, ou se ouviu, fingiu não ouvir.

A noite foi um pesadelo acordada. A primeira noite sem o homem que eu pensava ser o meu único amor foi o viver no inferno. Não havia mais ninguém para cuidar de mim, ninguém para me beijar o rosto antes de dormir, ninguém para me cobrir no frio, ninguém para me amar... E foi então que eu quis morrer.

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