terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Capítulo III - Cena VI

Espreguiço-me na cama imensa, vazia. Já me acostumei a não ter ninguém ao meu lado quando acordo. Levanto-me para o dia. Pela janela posso dizer que será, para muitos, um lindo dia. O sol irá brilhar, as flores, os passarinhos, a vida em perfeita harmonia pela janela, mas não dentro de mim. Dentro de mim tudo é negro, um imenso manto negro sobre minhas alegrias. Não quero sair de casa, não quero ver ninguém incomodado com minhas lágrimas, mas não posso me dar ao luxo de permanecer trancada neste apartamento, preciso ver pessoas, conversar com alguém, uma amiga, uma colega, um desconhecido no elevador. Não tenho ânimo para as minhas aulas, não tenho vontade de trabalhar, não quero mesmo tocar o piano, nem ouvir sua melodia triste. Mas é preciso.

Olho atentamente para a imagem no espelho. Estou tão abatida, tão pálida, sem vida. Não me admira que Jorge esteja perdendo o interesse em mim, estou horrível demais, envelheci anos em meses; perdi a essência da felicidade, ganhei uma expressão amargurada e triste. Há ainda como mudar isso? Poderei recuperar o que me foi tomado? Há esperança para reconquistar o que eu tinha?

A esperança é o consolo dos tolos. Eu sou a maior das tolas. E não percebo isso por bem, mas por estar no limite da minha sanidade física e mental. Não aguento mais o gosto das minhas lágrimas na boca nem a dor que me devasta o peito como se fosse uma ferida mortal. A luz se apagou quando ele me deixou de lado e fez questão que eu sentisse a sua distância. E eu tentei de tudo para agarrá-lo, para não deixá-lo partir, mas meus esforços não valeram de nada. Eu mesma sinto que não me valeu de nada o sofrimento que me impus de forma tão imatura.

Que surpresa ver Jorge dormir na poltrona. Pensei que ele chegaria com o sol, mas me enganei. Ele dorme. Eu me aproximo devagar, pé após pé, como se fosse uma ladra pronta para levar o ouro.

Durma, meu querido, durma. É tão bonito quando dorme, sem as preocupações que o desnorteiam todas as noites. Mas o que você faz aí tendo uma cama tão confortável e quente? Por que dorme no desconforto se podia estar nos meus braços? É de mim que foge? É meu amor que sufoca você? Não entendo por que tem de ser assim, quando só o que eu queria era ter você para mim. Por quê? Por que você entrou na minha vida e me tomou toda a segurança que eu tinha? Aceitas uma taça de vinho com este homem encantado com teu talento ao piano; você me perguntou com o sorriso que eu amo. Como não aceitar beber do seu vinho e me embriagar em sua boca, Jorge? Eu quis tomá-lo em meus braços desde que meu olhar encontrou o seu. Eu quis ser sua no momento em que o vi se encantar com minha música. E quis chorar quando você se foi do mesmo jeito que surgiu, sem que eu nada pudesse fazer para afastá-lo de mim ou agarrá-lo ao meu peito arfante. Paixão à primeira vista! Eu não acreditava nisso até você me mostrar que eu estava errada, que sempre fui errada e meu acerto era você.

3 comentários:

  1. Alberto, seu livro-blog tem sido a única leitura desde que comecei com a rotina louca de trabalho. Espero sempre ansiosa por mais um post, que me tire da minha realidade por alguns instantes e faça entrar na vida de suas personagens.

    ResponderExcluir
  2. Caro Leitor,

    A Ler Na Net é um site de publicações e vendas de livros virtuais. E por se tratar de algo inovador no mercado, nós o convidamos para publicar uma de suas obras ou textos em uma de nossas sessões.
    Desse modo, também aproveitamos este comunicado para convidá-lo a visitar nosso site e verificar a grandiosidade de nosso projeto.
    Logo, venha participar dele conosco. Será uma grande honra!

    * Os livros são comercializados no modo virtual (e-book), o valor da venda é ajustado ao estabelecido pelo site.
    www.lernanet.com.br

    ResponderExcluir
  3. Comentário no dia do niver.

    ResponderExcluir