
Não estou bem. Faz muito tempo que não estou bem, mas agora o corpo dá mostras de que também não está. Sinto-me febril, desanimada, triste demais para enfrentar o dia, para aguentar a noite. Perco aos poucos a vontade de fazer o que me dá prazer, ou dava, porque hoje o único prazer que sinto em mim é quando Jorge finge me amar. O piano há muito foi esquecido. Não quero tocá-lo, não o abro, não dedilho em suas teclas a minha amargura... perdi-lhe o gosto e nego-lhe a paixão que traduzia em minha música uma vez alegre, hoje triste. Não toco mais, porque sei que causarei em mim um mal maior a tocar melancólicas notas. Nego-me Chopin, nego-me Albinoni, Bach, Mozart..., porque foi pela música que Jorge entrou em minha vida como uma marcante sonata. E eu me lembro como se fosse tão perto a distância do tempo. Seu sorriso brando, seus olhos em mim, como se eu fosse a única pessoa naquele salão de festas, penetraram-me com tamanha intensidade que meus dedos quase paralisaram. Apaixonei-me por ele no primeiro instante. Apaixonei-me pela paixão estampada em seu rosto ao me ver e ouvir tocar. Nessa noite eu disse a mim mesma que ele seria meu a qualquer custo, mas não imaginava que o preço pago fosse tão alto ao meu penar. Se soubesse o quanto sofreria para tê-lo talvez desistisse dos meus quereres, talvez me forçasse a não desejar. Iludi-me pela quimera... quis um sonho que não posso manter, embora tenha feito louca tentado. Não posso mais viver um amor desmedido em que a balança pende somente para um lado. Preciso mudar. Preciso me mudar.
Louca para saber o fim. Parabéns! Está lindo.
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