sábado, 11 de setembro de 2010

Cena II - Parte I


Novamente me vejo sozinha quando acordo. Jorge não está. Não dormiu comigo novamente. Mais uma vez tateio a cama e não sinto o seu corpo ao meu lado. E tudo o que eu queria era vê-lo quando abro os olhos depois dos sonhos. Queria me sentir segura como toda mulher amada se sente, queria tê-lo em minha vida mais presente do que apenas quando me despe a roupa e se deita comigo.

Pela janela o dia nasce num tom arroxeado e bonito. O sol vem de leve, como se levantasse de um mergulho no mar, surgindo pouco a pouco, trazendo luz à escuridão da nossa vida. Eu queria que você estivesse aqui, Jorge, para ver o sol nascer comigo, eu queria que estivesse aqui para me abraçar e dizer ao meu ouvido as palavras que da sua boca não me diz. Mas você não está, Jorge! Você nunca está comigo. Tudo o que queria era o seu companheirismo. Eu também preciso de alguém que me aqueça o coração, querido, porque como você, eu também tenho meus sofrimentos guardados no meu peito. Mas são diferentes, você diz. E são mesmo, não é verdade? A diferença, Jorge, é que eu amo você mesmo sabendo que você não tem por mim o mesmo amor que lhe dedico. É por isso que me pego a chorar baixinho quando acordo e sinto esta lacuna em mim, este imenso buraco, a falta de um afeto verdadeiro que me faça, de verdade, feliz.

De quem é a culpa afinal? É sua, que me usa para satisfazer as suas vontades, ou é minha, que me submeto aos caprichos de um amor desigual? Acredito que seja um pouco dos dois. Cada um de nós tem sua parcela de culpa neste jogo perigoso do amor. E se eu fosse orgulhosa, se eu fosse mais mulher do que menina, teria posto um fim ao martírio de amar sem ser amada, mas entre ter você para mim por um instante e não lhe ter pela vida inteira, prefiro agarrar-me ao que tenho a passar a vida como você, querido. Eu sei que muitas vezes me procura para aplacar a falta dela, eu sei que me invade muitas vezes pensando nela, mas eu só penso em você, Jorge. E quando nos sussurros do amor é o outro nome que chama, eu me congelo na dor que as suas palavras me causam, como ferro em brasa marcando a pele, e me esforço para você não perceber que eu não sou ela. É claro que não quero ser ela, quero ser eu na sua vida, mas se a única forma que tenho para prendê-lo a mim for a anulação do meu ser, eu me anulo para poder sentir um mínimo da paixão que arde em seu corpo e pulula em sua mente.

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